domingo, 30 de agosto de 2015

SER NÓS MESMAS!

Esses são os inimigos externos que Clarissa também destaca em seu texto. Sempre por trás do ato de escrever, pintar, pensar, curar, falar, cozinhar, fazer, tem um rio que corre livre. Porém, esse rio pode ser poluído por forças externas, da cultura em que essa mulher está inserida. Ele é poluído quando a sociedade diz que as ideias da mulher são inúteis, que não adianta ela se esforçar, ninguém vai se interessar, que continuar é bobagem. Essa mulher então vai sendo minada e vai acreditando em cada palavra. Ou, como diz Virgínia, o esforço para provar que ela é capaz, contamina sua produção criativa, que não consegue fluir por si mesma.


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De frente com a morte.



"Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração."
(Steve Jobs)

Djavan - Faltando um pedaço.

sábado, 29 de agosto de 2015

SAGRADO FEMININO

Página muito boa, que trata de assuntos do nosso interesse. Vamos acessar e divulgar Emoticon wink.
TEMOS QUE FALAR SOBRE ISSO é uma plataforma de relatos ANÔNIMOS de mães que tiveram depressão pós parto, transtornos ligados à saúde mental na maternidade, transtornos no período perinatal (desde a concepção até o primeiro ano do bebê), dificuldades durante a gravidez, problemas com amamentação, partos traumáticos e violência obstétrica. Desabafos de mulheres que, desamparadas, não encontram ajuda ou apoio para falar sobre isso. Obrigada! Temos que falar sobre isso Buscamos profissionais para colaborar com o projeto!

NADA SUTIL

Outras dores do parto: mães relatam ‘novo tipo’ de violência obstétrica em hospitais

Centenas de mulheres são vítimas, diariamente, da violência obstétrica dentro de unidades de saúde, que vai desde o tratamento dado pela recepcionista das maternidades às imposições médicas na hora do parto

Serei Leal -FALA-SE COM MÚSICA

terça-feira, 25 de agosto de 2015

SEGUNDO SEXO

...Seu segundo livro mais importante foi publicado em 1949: O segundo sexo. Ela estava pensando na mulher. Na nossa cultura, a mulher tinha sido transformada num “segundo sexo”. Só o homem aparecia como sujeito dessa cultura. A mulher, ao contrário. Fora transformada em objeto do homem. Dessa forma, lhe haviam tirado a responsabilidade por sua própria vida.Para Simone, a mulher precisa reconquistar essa responsabilidade. Ela precisa se reencontrar consigo mesma e não pode simplesmente aliar sua identidade à de seu marido. Isto porque não é só o homem que reprime a mulher, A própria mulher se reprime quando não assume a responsabilidade por sua própria vida."

Textos: O Mundo de Sofia - Romance da história da filosofia

sábado, 22 de agosto de 2015

TERAPIA QUE MALTRATA

Que terapia trata todos supõe
Que terapia maltrata
Só quem senta ,sente
Divã,poltronas,para confortavelmente acolher
Determinada hora transforma-se em masmorra
É,ela ,insegura ,invade o consultório
Derruba
Destroça
Finaliza aquele algo que trata
Ela suspeita haver amor na terapia
E seu ciúme maltrata
Aquilo que era privativo
Agora foi exposto
Mas exposta mesmo está a dor
De quem procurou na terapia tratar-se
Descartada,
Enfrenta mais um longo mistério
Terapia,..


terça-feira, 18 de agosto de 2015

PENSAR DÓI

...Mas como ser feliz num mundo que rebenta de miséria? Em cada cartaz de cada esquina o que se estampa é a morte;ou, pior, a tirania;a brutalidade; a tortura; a derrocada da civilização;o fim da liberdade. Nós aqui, pensou, apenas nos abrigamos debaixo de uma folha, uma folha que será destruída. E Eleanor pretende  dizer que o mundo melhorou, só porque duas pessoas, dentre todos os milhões, são "felizes". Tinha os olhos postados no chão fixamente. Estava vazio agora, salvo por um fiapo de musselina rasgado de alguma saia. Por que observo assim as menores coisas?- pensou. Mudou de posição. Por que tenho de pensar? Quisera não pensar. Quisera ter cortinas na mente, como as dos vagões- leitos de estrada de ferro, cortinas que baixam interceptam a luz; as cortinas azuis que a gente puxa nas viagens noturnas. Quisera ter o falcão da mente encapuzado, deixar de pensar, pois pensar é um tormento, e apenas vogar, vogar à deriva e sonhar.........
Virginia Woolf   

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

DEVIR MULHER!

Resultado de imagem para frida kahlo

SERÁ

Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominando assim
Que você vai me entender
Eu posso estar sozinho
Mas eu sei muito bem aonde estou
Você pode até duvidar
Acho que isso não é amor

Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Ô ô ô ô ô ô ô ô ô ...

Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação?
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão
Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração

Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Ô ô ô ô ô ô ô ô ô ...

Brigar pra quê
Se é sem querer
Quem é que vai nos proteger?
Será que vamos ter
Que responder
Pelos erros a mais
Eu e você?
L.Urbana


QUEM SÃO???


As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
Eduardo Galeano

sábado, 15 de agosto de 2015

LIBERTE-SE

...O prisioneiro não é aquele que de fato enjaulado está, pois através da imaginação ele pode ir onde quiser, fazer o que quiser, pensar o que quiser e ninguém será capaz de detê-lo.
O verdadeiro prisioneiro é aquele que tem todo o universo a sua disposição para explorá-lo, por menor que seja… mas fecha-se em torno de seu próprio ego e ergue através de seu medo um muro que parece intransponível… porque prefere o conforto da conhecida prisão a desafiar a falta de controle que se tem sobre a vida…

Prisioneiro da própria mente.
Que prefere mentir para si mesmo a encarar a realidade.

Até quando prisioneiro de si?
Responda!!!!

Inventando artifícios para não enxergar a verdade.
É mais fácil ficar ai… acuado em solidão.
Preso dentro dentro da cabeça, no conforto da continuação.

A liberdade é um preço alto demais para quem não está disposto a ser responsável por suas próprias escolhas, suas próprias decisões, por suas infinitas possibilidades.

Finge que cava uma saída para que os outros pensem que há algum desejo real de livra-se da Gaiola.
Mas no fundo, no fundo, prefere mesmo é essa condição.

Se olhe no espelho…
Onde está a prisão?

Tico Sta Cruz

Entrevista com Criolo - PARA TODOS

Joao Bosco - Papel Machê

Elis Regina - Atras da Porta - ao vivo

Abujamra declama "Loucos e santos" de Oscar Wilde

Violência em Saúde Mental!

...Se apaixonou pelo seu terapeuta, numa relação transferencial deveria pular fora e procurar outro terapeuta...(Fala de esposa de terapeuta dirigindo-se  a paciente baseada em seus ciúmes insanos).

Vida!

Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária.
A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.
Anaïs Nin

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Psicólogo Pedro Leite: O AMOR TERAPÊUTICO

Psicólogo Pedro Leite: O AMOR TERAPÊUTICO: O AMOR TERAPÊUTICO "O Amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. Ninguém consegue ter consciê...

Skank e Nando Reis - Ainda Gosto Dela

Perdas e Ganhos!!



"Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o. Com ele ia subindo a ladeira da vida. E, no entretanto, após cada ilusão perdida... Que extraordinária sensação de alívio” (Mário Quintana).

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Vamos Resistir!!!

Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas.
Lygia Fagundes Telles

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MISTÉRIOS

"Me entender é um privilégio. Tem que ser pelo coração, tem que ser com a minha permissão. Não me esforço pra fazer sentido, gosto da dúvida, de nem eu mesma saber meu próximo passo. O que eu quero agora pode durar algumas horas, alguns anos, quem sabe? Só me explico pra mim mesma, e, ainda assim, não me entendo. Quem dirá as outras pessoas, que não acompanham nem o início dos meus pensamentos insanos, intensos, inteiros. Quem sou eu? O que eu quero da vida? O que eu tanto espero das pessoas? E o que eu desespero? Queria poder responder pelo menos uma pergunta, facilitar minha vida, estar à frente de mim. Demoro muito tempo pra tomar uma decisão, mas aí eu posso afirmar: decisão tomada não tem volta. Talvez minha certeza seja não ter certeza, minha resposta seja não ter resposta, Talvez meu mistério, que eu sempre quis ter, seja exatamente esse: ser um ponto de interrogação junto a uma exclamação. Falo sobre mim, meus amores e desamores com desconhecidos, sem tabus, sem problemas. Conto meus sonhos, minhas histórias, minhas ideologias. Aí me lembro que não tô sendo nada misteriosa, mas já foi, sou mais rápida que isso. Só que veja bem, mistério é muito relativo, muito pessoal. E, mesmo contando minha vida pra uma amiga ou um cara no bar, eu sou o mistério de ser hoje e só. Amanhã, já sou outra e nem eu me reconheço(...)

MASCÁRAS

Por Gilberto Lazan

Cada vez que ponho uma máscara para esconder minha realidade fingindo ser o que não sou, faço-o para atrair o outro.E logo descubro que só atraio a outros mascarados. Distanciando-me dos outros devido a um estorvo: a máscara.

Faço-o para evitar que os outros vejam minhas debilidades. E logo descubro que ao não verem minha humanidade os outros não podem me querer pelo que sou...senão pela máscara.

Faço-o para preservar minhas amizades. E logo descubro que quando perco um amigo por ter sido autêntico realmente não era meu amigo. E sim, da máscara.

Faço-o para evitar ofender alguém e ser diplomático. E logo descubro que aquilo que mais ofende as pessoas das quais quero ser mais íntimo...é a máscara.

Faço-o convencido de que é melhor que posso fazer para ser amado. E logo descubro o triste paradoxo...

O que mais desejo obter com minhas máscaras é, precisamente...o que não consigo com elas.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

SER OU TER??

EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comparo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

Eddie - Lealdade

Titãs - Homem Primata

QUEM É MAIS???

"...A elite brasileira é consumista demais?
Comecei a trabalhar em 1967, vi a chegada da pílula [anticoncepcional] e a emancipação sexual dos anos 60. Na época, achava-se que essa liberdade iria ‘adoçar’ as pessoas. ‘Faça amor, não faça guerra.’ Mas sexo e amor são coisas diferentes. É triste ver que os ideólogos daquela revolução estavam totalmente errados, porque a emancipação sexual aumentou a rivalidade entre os homens e entre as mulheres, foi criado um clima de competição, atiçou tudo que tinha de ruim no ser humano. Foi um agravador terrível do consumismo. Em países de Terceiro Mundo – e, intelectualmente, aqui é quase Quarto Mundo –, a elite só piorou nesse tempo. É uma elite medíocre, ignorante, esnobe. Na Europa e nos EUA, o exibicionismo da riqueza é muito menor. Na Europa, as pessoas consomem qualidade, não quantidade. Elas têm uma bolsa cara, mas não mil bolsas, para fazer disputa. Aqui há um comportamento subdesenvolvido e medíocre. E totalmente competitivo. As festas de casamento e de 15 anos são patéticas. A próxima festa tem de ser maior. Isso é sem fim. É sofrimento, é infelicidade. A quantidade e o volume com que as pessoas correm atrás dessas coisas é desespero..."

FLÁVIO GIKOVATE


terça-feira, 4 de agosto de 2015

TANTAS PALAVRAS

A depressão é uma forma muito particular e avassaladora daquilo que corriqueiramente chamamos a dor de viver. Juntamente com a angústia e a dor propriamente dita, é uma constelação de afetos tão familiar que, como escreve Daniel Delouia, dificilmente conseguimos classificá-la entre os quadros clínicos da psicopatologia. À dor do tempo que corre arrastando consigo tudo o que o homem constrói, ao desamparo diante da voragem da vida que conduz à morte – que para o homem moderno representa o fim de tudo – a depressão contrapõe um outro tempo, já morto: um “tempo que não passa”, na expressão de J. Pontalis.

O psiquismo, acontecimento que acompanha toda a vida humana sem se localizar em nenhum lugar do corpo vivo, é o que se ergue contra um fundo vazio que poderíamos chamar, metaforicamente, de um núcleo de depressão. O núcleo de nada onde o sujeito tenta instalar, fantasmaticamente, o objeto perdido – objeto que, paradoxalmente, nunca existiu.

A rigor, a vida não faz sentido e nossa passagem por aqui não tem nenhuma importância. A rigor, o eu que nos sustenta é uma construção fictícia, depende da memória e também do olhar do outro para se reconhecer como uma unidade estável ao longo do tempo. A rigor, ninguém se importa tanto com nossas eventuais desgraças a ponto de conseguir nos salvar delas. Contra este pano de fundo de nonsense, solidão e desamparo, o psiquismo se constitui em um trabalho permanente de estabelecimento de laços – “destinos pulsionais”, como se diz em psicanálise – que sustentam o sujeito perante o outro e diante de si mesmo.

Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões. Amamos: a vida, os outros, e sobretudo a nós mesmos. Estamos condenados a amar, pois com esta multiplicidade de laços libidinais tecemos uma rede de sentido para a existência. As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar nisso o tempo todo; é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente.

A depressão é o rompimento desta rede de sentido e amparo: momento em que o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta cercar. É o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade. Algumas pessoas conseguem evitá-lo a vida toda. Outras passam por ele em circunstâncias traumáticas e saem do outro lado. Mas há os que não conhecem outro modo de existir; são órfãos da proteção imaginária do “amor”, trapezistas que oscilam no ar sem nenhuma rede protetora embaixo deles. “A depressão é uma imperfeição do amor”, escreve Andrew Solomon, autor de “O demônio do meio-dia”, vasto tratado sobre a depressão publicado nos Estados Unidos e traduzido no Brasil no final de 2002. Faz sentido, se considerarmos o sentido mais amplo da palavra amor.

Durante cinco anos, Solomon dedicou-se a pesquisar a depressão: causas e efeitos, tratamentos, hipóteses bioquímicas, estatísticas. Recolheu histórias de vida de dezenas de pessoas que passaram por crises depressivas – “nunca escrevi sobre um assunto a respeito do qual tantos tivessem tanto a dizer”. A estas, acrescentou sua própria história – o trabalho no livro foi uma forma de reação ao longo período em que ele próprio passou por sérias crises depressivas. Um período em que, nas palavras do autor, “cada segundo de vida me feria”.

A julgar pelos números recolhidos por Solomon em relatórios da divisão de saúde mental da Organização Mundial de Saúde – o DSM-IV – esta ferida acomete a um número cada vez maior de pessoas no mundo, e particularmente nos Estados Unidos. 3% da população norte americana sofre de depressão crônica – cerca de 19 milhões de pessoas, das quais 2 milhões são crianças. A depressão é a principal causa de incapacitação em pessoas acima de cinco anos de idade. 15% das pessoas deprimidas cometerão suicídio. Os suicídios entre jovens e crianças de 10 a 14 anos aumentaram 120% entre 1980 e 1990. No ano de 1995, mais jovens norte-americanos morreram por suicídio do que de da soma de câncer, Aids, pneumonia, derrame, doenças congênitas e doenças cardíacas.

Esta forma de mal estar tende a aumentar, na proporção direta da oferta de tratamentos medicamentosos: há vinte anos, 1,5% da população dos Estados Unidos sofria de depressões que exigiam tratamento. Hoje este número subiu para 5%. Sincero adepto dos tratamentos farmacológicos, que segundo ele salvaram sua vida, Andrew Solomon acaba por se perguntar se a doença cresce com o desenvolvimento da medicina ou se a indústria farmacêutica produz as doenças para os remédios que desenvolve, do mesmo modo que outros ramos industriais criam mercados para seus produtos.



Insight sem inconsciente?

A contribuição das terapias medicamentosas no tratamento das doenças mentais é inegável, e o analista, assim como outros “terapeutas da fala” no dizer de Solomon, não pode dispensá-la. “O Prozac não deveria tornar o insight dispensável,”, diz Robert Klitzman, da Universidade de Colúmbia, citado pelo autor. “Deveria torná-lo possível”.

Mas qual o insight possível, capaz de produzir efeitos sobre a subjetividade, em uma cultura onde as práticas de linguagem se impõem fortemente de modo a apagar o sujeito do inconsciente? As histórias de pacientes depressivos enumeradas por Andrew Solomon centram-se ao redor da perspectiva única do vitimismo. As pessoas se deprimem porque não suportam o que foi feito a elas. Acidentes, perdas traumáticas, abandonos, violência, abuso sexual na infância; é de fora para dentro que a vida psíquica se impõe àqueles que sofrem de mal estar.

É óbvio que a rede de proteção do psiquismo pode ser rompida pelas irrupções traumáticas do real; mas as “desgraças da vida” recaem sempre sobre um sujeito, incidem sobre uma posição desejante e são rearticuladas pelas formações do inconsciente, que são formações da linguagem. Do ponto de vista do vitimismo, a cura da depressão consiste na eliminação de todo traço de “má notícia” que advenha do inconsciente. A psiquiatria e a indústria farmacêutica aliam-se a este ponto de vista. “Assistimos a um conluio curioso entre a descrição psiquiátrica e a própria queixa do deprimido”, escreve Delouia. “A ignorância a respeito do psíquico “une o fenômeno depressivo com a parafernália nosográfica da psiquiatria”.

O autor não deixa de ser crítico em relação a esta perspectiva. “Nós patologizamos o curável. Quando existir uma droga contra a violência, ela será encarada como uma doença”. Também é crítico em relação ao ideal de remoção química de toda a dor de existir. No entanto, a ingenuidade a respeito da realidade psíquica prevalece até mesmo em relação à sua própria crise depressiva. Filho de uma mulher ativa e absorvente, que mais tarde ele próprio pode perceber como depressiva, Andrew Solomon participou, junto com o pai e o irmão, do suicídio assistido da mãe, vítima de câncer no ovário aos 58 anos. Depois dessa morte, dramática e intensamente estetizada, a fantasia de suicídio ocorre aos outros membros da família. No ano seguinte, Solomon inicia uma análise com uma mulher que lhe lembra a mãe, e propõe a ela um pacto incondicional: não abandonarão o tratamento até o “fim”, sob nenhuma condição. Mas alguns anos depois,a analista anuncia ao dedicado analisando que vai deixar o trabalho. Aposentadoria por tempo de serviço…

No tempo de análise que lhe resta, Andrew Solomon não entende por que vai entrando em depressão cada vez mais grave, até que a própria analista concorda em que ele busque auxílio psiquiátrico. A análise “termina” pouco depois, e ele atravessa um ciclo de depressões gravíssimas. A inabilidade da analista de Solomon quanto ao manejo da transferência diante de um quadro de luto melancólico salta aos olhos do leitor familiarizado com a psicanálise. Não é sem razão que ele escreve, anos mais tarde, que a psicanálise seja “hábil para explicar, mas não eficiente para mudar” os quadros depressivos.

A julgar pelo relato de Solomon, seu tratamento psicanalítico foi baseado na reconstituição da vida infantil, em busca de um causalidade psíquica que, de fato, pode ter valor explicativo mas não produz nenhuma intervenção sobre o psiquismo vivo e ativo no sujeito adulto. Pierre Fédida, em seu livro sobre a depressão, adverte sobre os riscos de se buscar a evocação de um “acontecimento real que se supõe empiricamente traumático: a vivência infantil – essencialmente inatual na fala associativa – recebe assim uma positividade patogênica, na forma de uma atualidade passada”. O “infantil” que interessa à psicanálise não é o do passado, rememorado pelo eu, mas o que se manifesta ao vivo na transferência, nas demandas dirigidas ao analista. Como a analista de Solomon não se deu conta da relação entre a proposta de uma análise incondicional feita por ele, o amor pela mãe e o pacto de morte que o uniu a ela? Como não se deu conta da relação entre a crise depressiva de seu analisante e o anúncio burocrático de sua “aposentadoria”?

O livro de Solomon não oferece nenhuma contribuição decisiva para o conhecimento da depressão, mas lança uma luz importante sobre as relações entre a emergência epidêmica dessa forma de mal estar e os modos de subjetivação predominantes na cultura norte-americana. Em uma sociedade onde as formações discursivas apagam o sujeito do inconsciente, em que a felicidade e o sucesso são imperativos superegóicos, a depressão emerge – como a histeria na sociedade vitoriana – como sintoma do mal estar produzido e oculto pelos laços sociais. O vazio depressivo, que em muitas circunstâncias pode ser compensado pelo trabalho psíquico, é agravado em função do empobrecimento da subjetividade, característico das sociedades consumistas e altamente competitivas. A “vida sem sentido” de que se queixam os depressivos só pode ser compensada pela riqueza do trabalho subjetivo, ao preço de que o sujeito suporte, amparado simbolicamente pelo analista, seu mal estar. A eliminação farmacológica de todas as formas de mal estar produz também, paradoxalmente, o apagamento dos recursos de que dispomos para dar sentido à vida.
Maria Rita Kehl


NÃO É FÁCIL SER UM HOMEM LIVRE - GILLES DELEUZE
Vivemos em um mundo desagradável, onde não apenas as pessoas, mas os poderes estabelecidos têm interesse em nos comunicar afetos tristes. A tristeza, os afetos tristes são todos aqueles que diminuem nossa potência de agir. Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o padre, os tomadores de almas, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e pesada. Os poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar, ou, como diz Virilio, de administrar e organizar nossos pequenos terrores íntimos. A longa lamentação universal sobre a vida: a falta-de-ser que é a vida... Por mais que se diga "dancemos", não se fica alegre. Por mais que se diga "que infelicidade a morte", teria sido preciso viver para ter alguma coisa a perder. Os doentes, tanto da alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado sua neurose e sua angústia, sua castração bem-amada, o ressentimento contra a vida, o imundo contágio. Tudo é caso de sangue. Não é fácil ser um homem livre: fugir da peste, organizar encontros, aumentar a potência de agir, afetar-se de alegria, multiplicar os afetos que exprimem ou envolvem um máximo de afirmação. Fazer do corpo uma potência que não se reduz ao organismo, fazer do pensamento uma potência que não se reduz à consciência.
(In "Diálogos")

SAUDÁVEL!!

A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia.
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

UM JARDIM PARA MARIA

UMA FLOR
Ela esperava uma flor,ele chegou com uma das mãos livres,abanando.A outra no bolso com um punhado de sementes diversas para lhe fazer um jardim.

Chico Buarque - Teresinha

MORTE E VIDA

HINO À VIDA (1881)
de Lou Salomé

Tão certo quanto o amigo ama o amigo,
Também te amo, vida-enigma
Mesmo que em ti tenha exultado ou chorado,
mesmo que me tenhas dado prazer ou dor.

Eu te amo junto com teus pesares,
E mesmo que me devas destruir,
Desprender-me-ei de teus braços
Como o amigo se desprende do peito amigo.
Com toda força te abraço!
Deixa tuas chamas me inflamarem,
Deixa-me ainda no ardor da luta
Sondar mais fundo teu enigma.

Ser! Pensar milênios!
Fecha-me em teus braços:
Se já não tens felicidade a me dar
Muito bem: dai-me teu tormento.

* * * * *

Friedrich Nietzsche - Hymnus an das Leben

EMUDECIDA

Força Maria
Levanta Maria
Reza Maria
Acredita Maria
Maria vença
Pois alguém já venceu o mundo...
Maria é gente
Maria sofre e geme
Maria agoniza  agora
Maria e o além,dalém??
Volta Maria
Maria desperta
Maria esteve dormindo

Meire Anys


SEM PALAVRAS!!

O Rappa - Auto-Reverse (Clipe Oficial)

domingo, 2 de agosto de 2015

CRIANÇA NÃO TRABALHA

A 5ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina (TRT-SC)negou recurso da empresa Centrais de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (Ceasa) e manteve uma condenação de R$ 200 mil em danos morais coletivoscontra a distribuidora e o governo do Estado, imposta pela 1ª Vara do Trabalho deFlorianópolis, por permitir a exploração do trabalho de crianças e adolescentes em sua sede, localizada no município de São José, na Grande Florianópolis. O governo estadual recorreu da decisão.

Ceasa e governo do Estado são multados por exploração do trabalho infantil

A ação foi movida pelo Ministério Público do Trabalho. O órgão se baseou em diligências realizadas pelo Conselho Tutelar em 2013 e 2014, quando foram flagradas mais de 30 crianças e adolescentes movimentando cargas com pesos superiores a 20 quilos e dormindo no chão, entre caixas. 
In diário Catarinenese

CORAGEM

Um coro alto de vozes masculinas, a dos garotos em volta das garotas, abafa as vozes femininas e ressoa pelo ambiente:
– Buceta! Buceta! Buceta eu como a seco! No cu eu passo cuspe! Medicina é só na USP!”
(Tatiana Merlino e Igor Ojeda, em reportagem publicada no dia 11/11)
O grito de guerra infame integra uma das primeiras atividades do trote na faculdade. A barbárie evolui para a apalpação, a forçação de barra por um beijo, dedos e línguas, calcinhas arrancadas, chegando aos estupros e violações. Tudo isso tendo como combustível hectolitros de álcool, energizantes e drogas de todos os tipos, consumidos abertamente em “festas tradicionais” promovidas por entidades igualmente tradicionais da USP, como a Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz.
A situação só veio a público graças à coragem de um grupo de jovens que ousou romper o medíocre, covarde e criminoso pacto de silêncio.
Na quarta-feira (12/11), como se tivesse sido colhida de surpresa pelas denúncias, a direção da Faculdade de Medicina anunciou a criação de um centro de direitos humanos para dar assistência jurídica e psicológica às “vítimas de agressões sexuais, machismo, racismo e homofobia”.
Blog de 

LAURA CAPRIGLIONE

Gonzaguinha - Grito de Alerta / Diga lá, Coração / Espere por Mim, Morena

Sigilo Médico

"...Código de Ética Médica; Resolução 1.246, de 08 de janeiro de 1988, do Conselho Federal de Medicina; um dos princípios fundamentais que regem a profissão consiste no dever imposto ao médico de manter sigilo quanto às informações confidenciais que tiver conhecimento no desempenho de suas funções, cuja revelação somente pode ser feita por justa causa, dever legal ou autorização do paciente ... Acresce ponderar que o sigilo em questão não se restringe só a figura do médico, visto ser o termo utilizado na concepção genérica. Dessa forma, pode-se dizer que os direitos e restrições concernentes ao sigilo se destinam também aos psicólogos, psicanalistas, dentistas, enfermeiros, parteiras, funcionários e dirigentes de hospitais etc."

Outras dores do parto: mães relatam ‘novo tipo’ de violência obstétrica em hospitais | Notícias | Acritica.com - Manaus - Amazonas

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Mundo Melhor

Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas.
Lygia Fagundes Telles

Maria,Maria

Maria não é Santa
Maria é Diferente
Maria não é Puta
Maria não é Louca
Maria é vítima
Maria é Mulher
Maria é Gente...
E Gente sente
Onde estão os algozes de Maria
Na família
Na igreja
Na escola
No Hospital
Nas ruas,
Nos cantos e
Recantos...
Acorda Maria !!!
Meire Anis


Por um Anjo sem asas

Quisera Maria ter reconhecido seu anjo
Mas anjo é anjo e
Embora sabendo-se não reconhecido
Cumpriu seu papel
Pagou o preço.
A travessia para reconhecer um anjo
É real...
A cegueira  humana impediu Maria de Vê-lo
E Maria chora a travessia
Agora gemendo,sangrando
Desconfiando de que por outros caminhos
Talvez não  o reconhecesse...
O lado bom da vida
É ter uma outra chance
E agarra-se a esta
Aproveitando toda a bondade do  Anjo!!!
Meire Anis
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Ser Mulher

Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária.
A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.
Anaïs Nin

Legalidade em Saúde Mental

LEI 10.216/2001 (LEI ORDINÁRIA) 06/04/2001

O Rappa - Monstro Invisível (Clipe Oficial)